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Luto

  • Foto do escritor: Psicóloga Evellyn Sousa
    Psicóloga Evellyn Sousa
  • 7 de mar. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: 13 de mai. de 2023




O conceito de “luto” normalmente está associado ao processo posterior à morte de um ente querido. No entanto, quando estamos perante o término de uma relação amorosa ou a perda de um membro do nosso corpo após um acidente ou após uma cirurgia, ou quando perdemos um animal de estimação, estamos igualmente a falar de luto, ou seja, todas estas situações são exemplos de perdas pelo que o indivíduo passa ao longo da sua vida e que, obviamente, necessita de tempo para ultrapassar esta fase.


Também é importante falar sobre a definição de “Processo de Luto” que é bastante complexa na medida em que cada pessoa o vivencia de forma diferente, mediante as culturas, o meio em que está inserida e o próprio contexto da perda também influencia a forma como a pessoa vai encarar o luto.


Fatores que influenciam o luto:


Existem determinados fatores que podem alterar a forma como as pessoas vivenciam o luto, fatores estes que, de acordo com Worden (1983) se podem dividir em seis categorias: características do morto; natureza da relação de vinculação; circunstâncias da perda; história pessoal; personalidade e variáveis sociais.


Na primeira categoria, características do morto, é pertinente recolher informação sobre o morto para depois compreender melhor as reações da pessoa à perda.


Na segunda categoria, natureza da relação de vinculação, é necessário ter em conta o tipo de relação que a pessoa mantinha com a pessoa perdida, assente em sentimentos de segurança, apoio, intensidade ou ambivalência, percebendo que papéis é que a pessoa preenchia na vida do enlutado. Ao aprender a viver sem um significativo, quem sofreu a perda tem frequentemente de se confrontar com esperanças e sonhos futuros destruídos.


Na terceira categoria, circunstâncias da perda, há determinadas circunstâncias que podem influenciar o processo de luto. Consoante a forma como a morte ocorre, a reação da pessoa que sofre a perda será diferente. Isto é particularmente verdade para perdas repentinas, inesperadas, violentas e/ou traumáticas. As perdas traumáticas aumentam frequentemente a sensação de irrealidade da perda ter ocorrido, podem evocar elevados níveis de raiva, ansiedade e culpa e podem desafiar a sensação de autoeficácia.


A quarta categoria, história pessoal, refere-se à experiência da pessoa relativamente a perdas em geral, e a perdas significativas em particular, que pode influenciar a forma como a pessoa lida com o luto.


Na quinta categoria, designada personalidade, as características individuais têm um peso fundamental na forma como a pessoa lida com o processo de luto, nomeadamente com sentimentos como o stress e a ansiedade. A idade, o sexo, a tolerância de emoções, os estilos de vinculação e os temperamentos inseguros e ansiosos, a capacidade de partilhar sentimentos com os outros, o estilo cognitivo, o estilo de coping, o auto-conceito, história de depressão ou outras perturbações, são alguns exemplos de características a ter em conta, que poderão ajudar a compreender a forma como o sujeito lida com o luto.


Por último, a sexta categoria designada de variáveis sociais, o luto é, em parte, um fenómeno social, estando presentes valores sociais, culturais e religiosos que condicionam a reação à perda (podem facilitar ou dificultar o processo). Existem algumas condições sociais que podem dar origem a um processo de luto mais complicado, nomeadamente quando a perda é socialmente inesperada, quando a perda é socialmente negada e quando há ausência de uma rede de suporte social.



luto para crianças


As crianças até, essencialmente, os seus quatro anos de idade, não conseguem perceber o conceito de morte, no entanto, elas sentem a perda de alguém que lhe é próximo, tal como um adulto, apesar de as crianças terem uma noção de tempo diferente da dos adultos onde o processo de luto poderá ser ultrapassado muito rapidamente. Na idade escolar, as crianças poderão sentir-se responsáveis e culpadas pela morte ocorrida na sua família e deverão ser asseguradas de que a culpa sentida é ilegítima. Há probabilidade de as crianças silenciarem e recusarem falar do sucedido com intuito de protegerem os adultos pois pensam que ao falar do acontecimento estão a agravar ainda mais o sofrimento dos adultos. É importante referir que tanto as crianças como os adolescentes devem vivenciar o acontecimento, nunca se deve evitar falar do sucedido nem colocá-las de parte, podendo até participar no ritual do funeral. A atitude de excluir as crianças do luto poderá bloquear o processo de luto. Cada adulto e cada criança vivenciará o seu luto de diversas formas.


Algumas tarefas que podem ajudar o processo de luto:


Worden (1983) apresenta algumas tarefas que não precisam de ser realizadas numa ordem particular e podem ser revisitadas e retrabalhadas diversas vezes: aceitar a realidade da perda, experienciar e processar a dor, a adaptação ao ambiente, no qual a pessoa perdida já não está presente e o reinvestir noutras relações.


A primeira tarefa (aceitar a realidade da perda) envolve a aceitação intelectual e emocional da perda. Existe uma sensação de irrealidade e descrença que ocorre após a maior parte das perdas (mais intensa quando a perda é repentina) e pode ocorrer um comportamento de procura que exemplifica a necessidade de encontrar a pessoa perdida, assim como de validação para si próprio do fato de a pessoa ter desaparecido. O oposto da aceitação da realidade da perda é o não acreditar, através de qualquer tipo de negação/recusa, que a perda ocorreu. Algumas pessoas recusam-se a acreditar que a morte é real e ficam-se pela primeira tarefa. Esta negação pode ser praticada em diferentes níveis e ter diferentes formas, mas na maior parte das vezes envolve os factos, o significado ou a irreversibilidade da perda. Outra forma de as pessoas se protegerem da realidade é negando o significado da perda. Esta primeira tarefa pode ser facilitada ao encorajarmos a pessoa a falar gradualmente acerca da perda e das circunstâncias da mesma.


A realização da segunda tarefa (experienciar e processar a dor) implica o processamento da dor e, se tal não acontecer, o luto pode vir a manifestar-se sob a forma de um sintoma somático ou reaparecer após uma perda subsequente sob a forma de reação de luto retardado. Nem todas as perdas evocam o mesmo tipo de resposta emocional mas podem manifestar-se sentimentos como tristeza, raiva, culpa, ansiedade e solidão persistente. É importante ajudar o indivíduo que atravessa o processo de luto a viver a dor em quantidades moderadas e de forma controlada para evitar uma sobrecarga emocional.


A terceira tarefa (adaptação ao ambiente) diz respeito à tomada de consciência progressiva das perdas assim como as adaptações às mesmas, exigindo tempo. A adaptação a um novo meio tem diferentes significados para diferentes pessoas, dependendo da relação que existia com a pessoa perdida e os diferentes papéis que esta desempenhava. Muitas vezes, esta tarefa não é fácil de ultrapassar e muitas pessoas trabalham contra elas próprias, promovendo o seu próprio desamparo, não desenvolvendo as competências necessárias para lidar com a situação. No entanto, a maior parte delas, não segue este percurso, pelo contrário, decidem que têm de desempenhar papéis que antes não costumavam ter e desenvolvem novas competências para lidar com a perda. Segundo Bowlby, existe uma redefinição de circunstâncias, de modelos de representação e de objetivos.


A última tarefa (reinvestir noutras relações) é o passo para que o enlutado possa investir em novos relacionamentos, permitindo ajudar a pessoa que atravessa o processo de luto a continuar a sua vida após a perda. Para muitas pessoas esta é a tarefa mais difícil de ultrapassar uma vez que,encaram a perda como algo muito doloroso. A pessoa perdida nunca está fora da vida do indivíduo mas necessita de ser colocado num lugar onde possa ser recordado, ao mesmo tempo que deixa espaço para o sobrevivente prosseguir com a sua vida e estabelecer outras relações.




Psicólogo e o luto


O papel do psicólogo é fundamental na medida em que ajuda a pessoa enlutada a lidar ou encarar a perda de forma adaptativa e ajustada, propiciando uma reorganização das crenças acerca de si mesmo e do mundo. Pretende-se que o indivíduo estabeleça um novo equilíbrio que lhe permita, não propriamente ultrapassar a perda, mas aprender a viver com ela.



Se você está passando pelo processo de luto e percebe que precisa de ajuda profissional, entre em contato.






Texto : O processo de luto de Vera Alexandra Barbosa Ramos.


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